Esta é certamente uma das frases mais gastas e sugeridas
neste começo de século. “Viver um dia de cada vez”. Esta frase faz-nos pensar
no quão precioso é a vida e qual o nosso modo de estar perante as várias adversidades
ou conquistas durante a nossa existência.
Mas será que se
pensarmos em modo de “viver um dia de cada vez” não irá afrouxar os nossos
horizontes? Não irá limitar os nossos pensamentos a longo prazo? Não será um
desalento e um enorme desconforto pensar que amanhã poderá ser tarde, ou
simplesmente não existir? Será que o pêndulo oscila tão descontroladamente que
nos ofusca a visão, e nos impede o equilíbrio? Talvez seja para nos poupar de
pensar num futuro tão assustador e acidental e concentrarmo-nos simplesmente no
agora. Pode ser tudo isto, mas mesmo assim prefiro pensar que o depois existe e
não há necessidade de convivermos como se fosse a ultima vez. Viver
intensamente sim, mas sempre com o intuito de compartilhar, de progredir,
sempre em modo racional.
Por outro lado, é intrínseco ao ser humano a sua realização
e a sede de chegar longe. Ora neste mundo tão selvagem é necessário munirmo-nos
de rapidez, sem pendentes ou atrasos. Aqui está o outro lado da moeda. É obrigatório
compreender que à velocidade com que tudo acontece neste mundo tão global,
basta uma ligeira distração e já só apanhámos a última carruagem. Torna-se
inevitável a corrida contra o tempo. Não podemos deixar para amanhã, porque
entretanto o comboio desta nova era já passou e aí sim o amanhã já aconteceu
ontem. Mas qual a motivo de tanta urgência? De tamanho descomedimento?
Neste momento a
resposta mais frequente é a crise. Mas não será consequência da míngua e
negativa oferta do mercado de trabalho que teima em não satisfazer as
necessidades do povo? Serviços que durante décadas foram desadequados e
transformaram a nossa sociedade demasiada consumista e desigual? Será ainda a
natural insatisfação pelo existente? Ou a necessidade imparável que o ser
humano tem de se afirmar como o todo-poderoso? Quem sabe se não é apenas um simples
descontentamento ou uma desmedida ambição?
De qualquer modo não podemos esquecer o equilíbrio necessário, a audácia, empenho, bom senso e criatividade. Fatores determinantes para uma
geração que se quer afirmar no mundo e ser reconhecida entre os maiores (melhores),
legando uma comunidade competente e produtiva. Esta frase, “Viver um dia de cada
vez”, com que nos identificámos ou não, irá permanecer e juntar-se a outras de
igual modo assente em determinada época da nossa história. Acredito que esta expressão seja considerada sempre pela positiva e sinónimo de bom prenúncio.