Amigos
Cúmplices e protetores, os amigos deveriam ser como os
dedos, unidos na missão de ajudar-se mutuamente com o objetivo de obter um
resultado positivo e eficaz. Se compararmos, quando um dos dedos está limitado,
de imediato todos os outros convertem as suas forças e energias para diminuir
as dificuldades do menos apto. É certo que deveria ser assim o comportamento
dos amigos, mas, são poucos os que agem deste modo e como consequência surge o
afastamento e até a indiferença. Todos nós somos muito individualistas e sem
tempo para cultivar a amizade, esquecemo-nos que grande parte da nossa vida é
compartilhada com os amigos, fazem parte de nós, estão de igual modo tão
presentes como a família. Dividimos desabafos, procuramos conselhos,
comemoramos, somos solidários, passeamos, choramos e rimos; mas, é sobretudo
quando queremos deixar cair nossas lágrimas que presenciamos um certo embaraço
na predisposição para as nossas lamúrias. A azáfama do quotidiano torna-nos
egoístas e muitas vezes até insensíveis. A necessidade de ter alguém que nos
escute e que nos ajude a encontrar respostas para os nossos problemas é cada
vez mais frequente, pois vivemos num mundo onde tudo acontece muito rápido e
temos obrigatoriamente que o acompanhar, esquecendo-nos ou deixando para traz
pessoas e valores tão importantes. Este entrave às nossas falas não é de modo
algum uma surpresa, surge porque na verdade não somos verdadeiramente amigos,
não somos como os dedos unidos nem possuímos o mesmo espírito de entre ajuda,
limitámo-nos a olhar em redor, a ouvir, mas não a escutar. Esta falta de
diálogo é sinónimo de individualismo e recato, tendo como consequência uma
tarefa muito mais difícil no desfecho dos nossos problemas e lamentos. Esta
resistência e acomodação rapidamente se torna num problema, conduzindo os
nossos desejos e ambições anteriormente idealizados a isolarem-se e acondicionarem-se,
tornando-nos seres insatisfeitos e sisudos. Mas, somos nós os protagonistas
deste cenário, esta resistência na partilha, a ausência de presença, a incompatibilidade
nas relações resulta de uma sociedade cada vez mais peculiar, distinta e
somente nós a podemos mudar. Preservar um relacionamento requer difundir todo o
nosso cerne, irradiar a nossa essência de modo a contagiar, caso contrário
restam-nos os amigos virtuais, estes sim, presentes e com um simples clique
comentam, classificam as nossas frases, preferências musicais ou literárias,
paisagens ou fotos, apenas com um simples mas estimulante “Gosto”.