domingo, 25 de novembro de 2012

(IN) Comunicação

A falar é que nos entendemos, dizem os mais sábios, mas, comunicar através de palavras não é propriamente o único meio para conhecer todo o universo da comunicação. Pronunciar palavras é apenas um dos meios que nos permite dialogar de uma forma acessível para melhor nos compreendermos, mas na comunicação deve existir, partilha, interação, pois só assim podemos nos conhecer e melhor conhecer os outros. A troca de ideias, sentimentos ou experiências faz-nos engrandecer, torna-nos responsáveis e sensíveis. Com as novas tecnologias surgiu a oportunidade de comunicar com tudo e com todos, estar informados e atualizados, ler, questionar e obter respostas, compreender novas culturas e diferentes modos de vida sem sair de casa. Deste modo, podemos tomar conhecimento e participar em tudo o que acontece, e de modo ativo e com a rapidez de um simples clique conhecemos todos, desde o mais comum dos mortais até à figura mais mediática, incluindo as nossas figuras de eleição. É de facto um outro mundo esta era das tecnologias, de tal modo absorvente e atraente que excede qualquer tentativa de adiar ou sequer interromper. Ficámos paralisados perante tanta eficiência e rapidez que………… nos esquecemos de falar, de comunicar. Podemos certamente afirmar, que nos é mais familiar e contemos mais saberes sobre o quê e quem está do outro lado do mundo, do que propriamente com as pessoas que vivem na mesma rua ou moram connosco. Esta atual realidade, esta necessidade inerente às tecnologias, traduz-se numa constante e inevitável escassez de diálogo, impõem-se novos modos de estar, de trabalhar, de estudo. A frequência com que trazemos o escritório para casa, rapidamente se transforma em rotina. A competitividade, objetivos a atingir, salvaguardar o emprego, quando este se apresenta cada vez mais precário e escasso, são de facto motivos suficientes que justificam o trabalho extra. Na escola, os trabalhos em computador e com recurso há Internet, são cada vez mais requisitados; obter informação é mais rápido e acessível através do Google do que consultar um livro ou manual. Para ler a nossa obra preferida, escusa a biblioteca ou estante até então repleta de livros, ordenados e selecionados, basta mais um clique.
É este o mundo moderno e fascinante das tecnologias, mas o qb é fundamental para manter o equilíbrio e saúde social necessários para uma prática e relacionamento comunicativo. Atualmente verificamos algumas deficiências em perceber quando a comunicação começa a ficar incomunicável e como em tudo existe o senão, senão e com brincadeira e uma pequena dose de ironia aqui vai.
Na nova era das tecnologias, pode perfeitamente fazer com que o seu marido ou filho desça para jantar sem utilizar a sua voz para os chamar, basta simplesmente enviar um email do seu PC para o do seu marido ou filho, que está no quarto. Não…., não é no quarto andar! É mesmo no quarto de dormir; da assoalhada ao lado, mas com toda a certeza ele irá responder de imediato, quer seja através do Chat, Messenger, Skype ou Facebook, pois são estas algumas das novas ferramentas mais utilizadas para comunicar.
Estar atualizado é exigível, quer a nível pessoal, quer em ambiente de trabalho, mas atenção, porque o nosso colega, vizinho, amigo ou familiar, pode rapidamente esquecer a nossa voz e não a reconhecer quando ouvir o nosso apelo, pode deixar de identificar aquele nosso olhar que anteriormente nos denunciava e até desconsiderar o nosso silêncio de oiro.
As pessoas são e valem muito mais do que umas quantas teclas, vamos partilhar ideias, experiencias, vamos por em comum, em suma, vamos comunicar.

domingo, 7 de outubro de 2012

Arrumar/Desarrumar

Desde muito cedo que nos ensinam a arrumar; quer seja os nossos objetos ou pertences, quer as ideias ou pensamentos. Primeiro em casa instituindo prioridades. Sentimentos como: amor, carinho, amizade, partilha, companheirismo, respeito mútuo; atitudes onde o saber ser e estar é irrepreensível, comportamentos adequados, civismo e disciplina, são sem dúvida os primordiais da natureza humana, são as bases fundamentais para a pirâmide que queremos construir. Jamais podemos esquecer que é em casa a nossa primeira estância na educação. Depois e continuamente na creche ou escola, com regras e rotinas que nos dirigem para uma aprendizagem e desenvolvimento saudável, com mais e melhor formação. Posteriormente no emprego ou em sociedade; o empenho, a dedicação, o profissionalismo, a concordância, a responsabilidade, os direitos e deveres, a solidariedade social, a partilha de saberes, e assim continuamente ao longo de toda a nossa vida. Deste modo, construímos uma identidade e afirmação enquanto indivíduo, o nosso desenvolvimento cognitivo, pessoal e social está repleto de ideias e valores que de modo mais ou menos organizado vamos acomodando mentalmente.
 Crescemos, degrau a degrau, com a informação perfeitamente assimilada do certo ou errado, com obrigações e necessidades demasiado conhecidas e onde dificilmente existe espaço para as diferenças, não nos é permitido desarrumar, estamos metodicamente formatados. Ora, quando nos confrontámos com divergentes conceitos e nos exigem um pensamento distinto e objetivo é claro que torna-se demasiado difícil de acomodar, pois o puzzle estava planeado e dirigido para assentar com as peças anteriormente programadas. Perante o desconhecido e com grande embaraço, sobressai a incapacidade de ação, tentamos de imediato analisar a razão, mas sem compreender o gigantesco desarrumo que nos provocaram. O incógnito é geralmente sinónimo de medo e diante as diversidades preferimos reforçar os valores anteriormente incutidos, em prol do menor distúrbio ou desordem. Assim, privámo-nos e remetermo-nos à nossa humilde e discreta compreensão, mesmo que a nossa mente cobiçasse mais.
Arrumar / desarrumar parece tarefa fácil, mas quando é necessário organizar ideias, acomodar os sonhos amontoados, compreender novas crenças, libertar preconceitos, atualizar e abraçar novos conhecimentos; a harmonia entre todos estes elementos é missão muito delicada de concretizar. É fácil fazer juízos, difícil é compartilhar. Às vezes é necessário desarrumar para mais facilmente perceber e entender as várias preferências, gostos, atitudes ou procedimentos. O mais curioso é que depois de desarrumar até compreendemos que afinal esteve muito tempo mal arrumado.
 Um armário, cheio de (gavetas) bem organizado, alinhado e cuidadosamente arrumado, com lenços, peúgas, cintos ou gravatas ,dispostos por cores e tamanhos; de inverno ou verão, disponíveis de modo que o seu manusear, a nossa rotina seja um ato mecânico, sem confusão, é o modo perfeito, mas, e se no caminho até à (gaveta) se desacertam? Será o seu desencontro causado pela sua singularidade ou simplesmente não fizeram o mesmo trajeto?
Iguais ou desiguais, devemos acolher, acomodar devidamente nas gavetas que dispomos e como verificámos é preciso um desarrumo para um arrecadar de novos saberes. Temos que deixar um espaço aberto na nossa (gaveta) para uma eventual mudança, proporcionar variantes, estar preparados para o inesperado.
Esta pequena reflexão surgiu a propósito de alguém dizer que está tudo demasiado arrumado, tudo muito certinho. É verdade, e mesmo com a consciência de que ainda existe muito espaço para compartilhar, é frequente fazermos como a tartaruga, esconder a cabeça debaixo da carapaça. Será que é para nos proteger? Constato que não e creio que o receio da exposição e vulnerabilidade a que nos sujeitámos quando as questões são pertinentes e o nosso saber nos trai com argumentos desprovidos é esta a principal causa de tal atitude.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Pedaços


A pequena brecha que persiste  e que anteriormente permitia adivinhar ou antever com clareza e evidência, agora, encontra-se demasiado gigantesca que confunde o nosso olhar medroso e descrente, impedindo-nos de a distinguir e transpor, limitando a sua compreensão, tornando-se ilegível. A visão nítida, simples e atingível que poderia ser concedida é agora embaciada por uma nuvem de pó que mora à nossa frente, transformando a porção de chão que pisamos em algo tão valioso, que em sua defesa preferimos a ignorância. Assim, a oportunidade de alcançar um grande quinhão é sobreposta pela pequena fatia que na realidade existe, e deste modo subsiste o impossível.
A nossa origem, o meio e classe social a que pertencemos e quem sabe também o nosso destino são de facto condicionantes para os nossos arrojados sonhos, tornando-os recatados e modestos. Os fracassos vividos, as amarguras ou alegrias, a esperança, essa, cada vez mais distante, o presenciar a excentricidade de alguns que se reflete em injustiça para outros, descortina (in) decisões e mostra caminhos nem sempre fáceis de percorrer.
“Ainda és um pedaço de gente”.
Este provérbio com toda a sabedoria popular caracteriza eficazmente o processo de aprendizagem para uma integração gradual e adequada que se pretende na sociedade, mas, existem também outros pedaços bem mais difíceis de moldar e adaptar. Esses pequenos pedaços, partes ou bocados desanexaram-se de um todo e onde a sua presença era complemento ativo e importante para o núcleo a que pertenciam. Igualmente verdade que estes pequenos fragmentos devidamente ajustados e integrados fazem toda a diferença quando pretendemos obter um resultado eficaz e positivo.
 A estes pequenos pedaços juntam-se outros, provenientes de vários grupos, onde se vão agregando ou encaixando, mesmo que de modo desigual e desordenado. Todos nós, passivamente e na incapacidade de construir uma comunidade mais sólida, vamos tentando-os unir, mesmo com a consciência de que os alicerces são inseguros e instáveis, mas na esperança que os seus direitos lhes sejam assistidos.
A resolução para unir estes meros pedaços depende de quem os possui, da influência, do domínio, mas e sobretudo da vontade de os aproximar, afinal, são pequenos os pedaços que nos permitem diferenciar o ser humano, no entanto são visíveis e transparentes as suas necessidades, nomeadamente quando o que se procura é a integração, justiça e igualdade. Para muitos, estes adjetivos são difíceis de alcançar, mas, continuámos a acreditar e assim resistir a um prazo que teima em manter-se demorado e vagaroso, é o viver ou sobreviver de um povo, é a nossa identidade como país.
 Para minimizar estas grandes lacunas da sociedade é necessário a intervenção dos que mantêm as maiores parcelas, dos pedaços maiores e medidas como: retidão no conceder, mais coerência nos factos, menos favoritismo e descomplicar, igualdade de oportunidades perante as mesmas capacidades e circunstâncias, partilhar e dividir de modo a que um pequeníssimo naco chegue àqueles que apenas ambicionam por migalhas. Estes são apenas alguns dos pequeníssimos retalhos que de algum modo concertam a vida daqueles que de mãos cheias de nada e coração vazio ainda acreditam no futuro.
Um simples naco de pão para alguns ou um enorme pedaço  para muitos? Ações e reações que assistimos inertes e por demais conformados. Seguimos em frente, impotentes e fracos perante uma grande desunião de pequenos ou grandes pedaços, de famílias, figuras ou rostos. Testemunhamos seguramente pedaços de nós. São pedaços de um corpo que desespera. As mãos que vemos estendidas à mercê da generosidade do próximo, os braços descaídos, o andar inseguro e sem rumo, o olhar tão frio e longínquo, são retratos cada vez mais comuns.
Pequenos na dimensão à escala geográfica, visão acanhada e estreita, pedaços de uma vida contada e descrita na sua grandeza ou numa vida (des)feita em pedaços? Estamos a ficar murchos de lágrimas; transformámo-nos em fragmentos de um corpo anteriormente inteiro, somos parte de um universo, que concebe no seu mais profundo interior, valiosíssimos pedaços.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Inconstante Quietude

Desassossego sossegado é um estado que visa fazer parte na vida de alguns de nós. O aperto no peito que faz bater o coração de modo apressado e irregular, esta calma inquieta, esta inconstante revolta, rapidamente nos transporta para uma via inundada de ideias e memórias que poderão ser perigosas e de fácil acesso. Este turbilhão por vezes descontrolado, depressa se transforma numa imensa e doentia ansiedade que nos deixa demasiado cansados e sem anseio para decifrar o complexo enigma que nos causou todo este estado. Este misto de situações, simples ou nem tanto, alheias à nossa vontade desfraldam uma serenidade e quietude figuradas, que ofuscam os que estão mais próximos, de modo a ocultar o desconhecimento da realidade sentida. Harmonia na postura e coerência nas palavras são adjetivos que queremos transmitir, mas as circunstâncias do momento evidenciam o oposto. Voz trémula, corpo descaído, olhar vago e distante caraterizam o estado de alma em que nos encontrámos. A escuridão e o silêncio da noite estão a aproximar-se e com ela a expectativa de um sono calmo e tranquilo, mas, é nessa escuridão que a nossa fantasia e imaginação é por demais criativa quando acompanhada de gigantescas crises de ansiedade. Começa o nosso palpitar, a respiração descontrolada e ofegante, agitação e desassossego, o corpo volta-se e volta-se enquanto a mente percorre velozmente, como quem espera um desfecho. Gira em torno de imagens, lugares ou pessoas, até que, já exausta cede ao enorme cansaço e descansa, mas só por breves instantes, pois depressa constata que tudo aconteceu em apenas alguns minutos. De volta à sua tarefa, inicia um novo processo até que a luz da manhã desperta o seu corpo para um novo ciclo, contudo, a mente essa continua mais adormecida do que antes. Carecemos de paz interior, de tranquilidade, mas como? Se a nossa tumultuosa rotina nos traz apenas desarmonia nas atitudes e relacionamentos, compromissos, acordos e desacordos, é exigido de nós um acompanhar galopante, sempre em constante competição e conjuntamente pomposos feitos, mais e mais, a compatibilidade incompatível, o impossível, o incomportável?!. Sossego? Quietude? Quem sabe, um dia, amanhã talvez.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Amigos


Amigos
Cúmplices e protetores, os amigos deveriam ser como os dedos, unidos na missão de ajudar-se mutuamente com o objetivo de obter um resultado positivo e eficaz. Se compararmos, quando um dos dedos está limitado, de imediato todos os outros convertem as suas forças e energias para diminuir as dificuldades do menos apto. É certo que deveria ser assim o comportamento dos amigos, mas, são poucos os que agem deste modo e como consequência surge o afastamento e até a indiferença. Todos nós somos muito individualistas e sem tempo para cultivar a amizade, esquecemo-nos que grande parte da nossa vida é compartilhada com os amigos, fazem parte de nós, estão de igual modo tão presentes como a família. Dividimos desabafos, procuramos conselhos, comemoramos, somos solidários, passeamos, choramos e rimos; mas, é sobretudo quando queremos deixar cair nossas lágrimas que presenciamos um certo embaraço na predisposição para as nossas lamúrias. A azáfama do quotidiano torna-nos egoístas e muitas vezes até insensíveis. A necessidade de ter alguém que nos escute e que nos ajude a encontrar respostas para os nossos problemas é cada vez mais frequente, pois vivemos num mundo onde tudo acontece muito rápido e temos obrigatoriamente que o acompanhar, esquecendo-nos ou deixando para traz pessoas e valores tão importantes. Este entrave às nossas falas não é de modo algum uma surpresa, surge porque na verdade não somos verdadeiramente amigos, não somos como os dedos unidos nem possuímos o mesmo espírito de entre ajuda, limitámo-nos a olhar em redor, a ouvir, mas não a escutar. Esta falta de diálogo é sinónimo de individualismo e recato, tendo como consequência uma tarefa muito mais difícil no desfecho dos nossos problemas e lamentos. Esta resistência e acomodação rapidamente se torna num problema, conduzindo os nossos desejos e ambições anteriormente idealizados a isolarem-se e acondicionarem-se, tornando-nos seres insatisfeitos e sisudos. Mas, somos nós os protagonistas deste cenário, esta resistência na partilha, a ausência de presença, a incompatibilidade nas relações resulta de uma sociedade cada vez mais peculiar, distinta e somente nós a podemos mudar. Preservar um relacionamento requer difundir todo o nosso cerne, irradiar a nossa essência de modo a contagiar, caso contrário restam-nos os amigos virtuais, estes sim, presentes e com um simples clique comentam, classificam as nossas frases, preferências musicais ou literárias, paisagens ou fotos, apenas com um simples mas estimulante “Gosto”.

domingo, 25 de março de 2012

CRUZ

Vivo, desde quando é uma incógnita, mas o meu início aconteceu desde que existe vida ou morte. Sou igualmente importante nos dois acontecimentos e durante este caminho houve sempre a necessidade de me referenciarem. Estou em toda a parte e participo ainda que invisível em todo o que me rodeia. Comecei por ser muito pequena mas aos poucos fizeram-me crescer, de forma a carregar comigo tudo o que existe. Sou denominada de “é esta a minha cruz” e quase sempre em sentido depreciativo. Sou transportada consoante a força ou a fraqueza humana. Para muitos é imprescindível o auxílio para me transportar, para outros um remédio. Alguém morreu por mim e comigo permanece. 
         Neste meu percurso tive quem me quisesse derrubar, pois situações inesperadas ou de difícil resolução me fizeram conter e pensar sobre o que fazer para me tornar mais leve. Guerra, pobreza, ambição dos homens, injustiça e egoísmo fizeram-me quase tombar, mas com a solidariedade, amizade, amor, carinho e principalmente força e coragem para vencer, permitiu-me erguer e fortalecer.
Sou única, embora me torne no efeito que cada um quiser. Gosto de me ver ao espelho como adorno de alguém ou rodeada de flores, sou igualmente ímpar nos jogos de sorte ou azar, sou um símbolo, um sinal, uma referência, negação ou simplesmente uma cruz. Estou neste momento ainda em construção, o meu alicerce é sólido e vai ajudar-me a manter-me firme e erguida. Espero continuar a crescer de modo especial que me permita suportar o que o futuro me reserva. Creio poder obter confiança, esperança, alegria e partilha que me possibilite através dos meus braços abraçar tudo o que me rodeia (o mundo).
            Hoje sou para muitos uma cruz de ouro, prata, diamante, leve e muito bonita, para outros continuo pesada, de madeira ou pedra fria, continuando a questionar-me, a pôr-me à prova, mas eu; sou o repouso, o renascer, a esperança e a vida. 

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Máscara

Diferentes e variáveis mas ao mesmo tempo tão iguais na sua permanência, no modo de aplicar e de ajustar. Quantas vezes colocamos a máscara ao longo da nossa vida, e a determinada altura já não conseguimos distinguir se a nossa entidade está ou não na máscara que repetidamente somos carecidos de colocar. Será resultado das situações com que nos confrontámos no nosso quotidiano? Consequência da idade, ou da vida que por nós passou? Os nossos ideais, o que defendemos hoje, não serão concerteza os mesmos mais tarde. Todos nós mudamos de máscara várias vezes ao longo da vida: com o marido, filhos, amigos ou familiares, mas é principalmente em sociedade que verificámos esta necessidade. Quantas vezes nos apetece dizer algo em relação a um determinado assunto, mas não é conveniente dizê-lo e, mais uma vez colocamos a máscara e dizemos o que é correcto, mesmo contrariando a nossa maneira de ser e de pensar. Existem várias posições em que nos ignoramos ou ignoramos os outros em benefício de um mal menor, de uma contrariedade, do bem comum. Somos o que os outros querem que sejamos e raramente o que na realidade somos.
Quanto à nossa essência, os nossos traços, esses são únicos e nos distingue uns dos outros, são os primeiros a sobressair perante uma situação delicada, e nem nos lembramos se devemos ou não colocar a máscara. Afinal só somos seres humanos, com características especiais e muito simples, tão simples como um esboço de um retrato a preto e branco que a vida teima em colorir.

domingo, 29 de janeiro de 2012

“Amores-perfeitos”

Amores; lindos, vários, inconstantes, distintos, intensos e duradouros, (uns mais que outros), coloridos e de uma profunda beleza, resistentes mas muito delicados, são sem dúvida o que move o ser humano. Uma vida sem amor não vive, não resiste.
Perfeitos! Não, não existem, pois de outro modo perderia todo o encanto, este entusiasmo na procura da alma gémea, a nossa cara-metade. A diversidade é sinónimo de diferença, contudo são as semelhanças que procuramos, são as afinidades que se entrelaçam e as relações desabrocham cheias de esperança e desejo. Assim se constrói um grande amor, quase perfeito, porque amor-perfeito só as flores que assim foram denominadas, talvez para que o ser humano pudesse de algum modo comparar e admirar esta aparentemente frágil e delicada flor e testemunhar a sua gigantesca resistência apesar das adversidades a que está sujeita. Variadas nas formas, tamanhos e cores, estas florescem no inverno, estação do ano com mais intempéries e vendavais. Detentoras dos mais lindos olhares e apreciações, subsistem e perduram para alegrar jardins e canteiros, assim como estimulam o uso da imaginação criadora dos artistas. O ser humano, cada qual com ou à procura do seu “amor-perfeito” deve compreender e espelhar-se nestas flores, simples mas completas, defendem a beleza nos seus mais elementares aspectos; poderá ser transversalmente a sua cor, tamanho ou forma, mas esta, vinda sobretudo do seu interior, da sua raiz; o seu carácter forte e sensível, consistente e estável. Juntas formam um lindo canteiro e irradiam um bálsamo de amor, uma melodia de entendimento e doçura, que ao sabor do vento ultrapassam fronteiras e continentes, como o amor.
O nosso “amor mais que perfeito “, a vida.