quarta-feira, 11 de maio de 2011

O meu voar

Disperso-me no horizonte logo cedo, o norte é o meu rumo, mesmo voando em círculo devido ao fio que ainda me segura. Tento voar, voar e voar, mas o vento quase me confunde levando-me a perder a orientação, causando por momentos a incapacidade de voar. De volta à terra procuro o meu local de abrigo, a extremidade do fio, do cordão que me guia e conduz. Na próxima tentativa de voo, vou deixar-me levar e dispensar o fio, pois tento conhecer o desconhecido. Neste voo atinjo o objectivo e materializo um dos instintos para o qual estava determinado, mesmo mantendo um voo raso. Agora na descoberta de mais uma incógnita do rumo que traçamos, tento ir mais longe, pois cada vez mais sinto confiança e uma plena clareza da rota, sempre em direcção ao norte, ao destino.Com o tempo o meu voar torna-se sereno e calmo mas sempre humilde, mesmo capaz, as asas são frágeis e o receio de uma rajada de vento mais forte me derrubar, impede a aventura, o risco. Foram muitos os voos ao longo do tempo, conjuntamente com e sem sucesso, posso notar com evidência o cansaço que se apodera e a minha vontade era de voar mais alto. Entretanto, lá longe, consigo conhecer o fio que há muito não o via e que baloiça como que a chamar por mim. Observo os voos dos meus cúmplices, uns bem alto, outros nem tanto, sem querer, comparo, sentindo que durante os meus voos, contribui para uma propagação de bem-estar e equilíbrio no ar que percorri, uma sensação de liberdade e harmonia nas ascensões e baixas que por empenho, necessidade, dever ou compromisso tive de efectuar.
Agora, os ventos voltam a soprar e desta vez mais forte e eu, mais debilitada, com as minhas asas fragilizadas, sou incitada a voar. Hoje e para espanto, já não tenho receio nem dúvidas, vou arriscar, mesmo sendo visível as circunstâncias desfavoráveis e desiguais em que acontece. Nada me pode dissuadir, os incentivos e pareceres de êxito são muitos, mas de igual modo as dificuldades. As rajadas quase me derrubam, mais uma vez estou à prova, de mim mesmo, um teste às minhas capacidades, tenho a certeza que vou atingir o objectivo, mesmo sendo este final de percurso um enorme desafio. A minha esperança incide nos ventos do acaso e na pertinência da conquista, porque capacidade, compromisso e empenho são uma constante luta até abraçar o propósito. Este voo é igualmente uma demonstração de força, capacidade e energia que anteriormente considerava não possuir e também um impulso à pacatez da inércia que apaga a vida.  

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Pensar

Pensamentos vagos
Vagos são os pensamentos, indefinidos mas claros como um raio de luz ao abrir a janela, rápidos e velozes na imensidão de memórias trazidas do baú que há muito tempo estavam trancadas. Intensos de emoções e sentimentos como um vulcão prestes a eclodirem das profundezas da alma e tão presentes como se os evidenciássemos no momento.
Vaguear pensando é o mesmo que flutuar no horizonte, onde as perspectivas se desvanecem em múltiplas e vastas possibilidades, ou onde um enorme vazio se apodera de uma gigantesca e misteriosa sensação de serenidade e calma.A capacidade de pensar ou imaginar exige conhecimento, raciocínio, argumento, mas principalmente estimulação e exercício como qualquer outro membro do nosso corpo. O indivíduo que não incentiva a memória, não pratica ou não argumenta, transforma-se numa cabeça vazia, oca e o seu pensamento poderá ser dominado de perturbação, incógnita, transformando-se numa surpresa e estranhamente presenciarmos uma manifestação de liberdade e independência, pensar implica acção ou reacção? Pensar é muitas vezes sonhar acordado. É voar como um pássaro sem sair do galho da árvore que o acolhe, é nadar no oceano sem nunca ter visto o mar, é ir ao fim de algo que nunca existiu, é poder, é domínio sobre o que não conseguimos obter, é a realidade que ao som de um zumbido ou de um choro de criança que rapidamente nos faz voltar ao presente.

domingo, 1 de maio de 2011

Onda

A vida oferece este vaivém, ir ou voltar, e como eu gostava de ir e poder voltar, como uma onda que vem ao encontro das rochas, salpica-nos de água e desvanecesse na areia, mas enquanto se esconde pode assistir ao riso das crianças na sua procura parecendo um jogo do esconde, e os desenhos que ajudo a construir, mas só até à chegada da próxima onda, pois nesse instante tudo se dispersa. Os mais velhos me respeitam e acatam os meus momentos, altos ou baixos, suaves ou mais ofensivas. Surjo cheia de alegria, de entusiasmo, de bem-querer e muitas vezes acarreto experiências falhadas, tentativas; algumas inúteis e com um gosto amargo, afasto-me para bem longe e tento refazer-me para a nova viagem. 

BALANCÉ

Balancé é o que a vida nos proporciona ao longo dos tempos. Este vaivém de vontades, direcções ou rumos que nos fazem parar para embalarmos, os trilhos que percorremos, as pessoas com quem cruzamos e nos fazem baloiçar nos sentimentos, na paixão, na intuição e na desilusão humana, que com maior frequência conferimos no nosso quotidiano mas, a riqueza da diversidade, da diferença de procedimentos, de saberes, de aptidões, competências são uma enorme fonte onde todos podem beber ou deixar correr em direcção ao próximo.